A CARTA
Assim não se esperam cartas.
Assim se espera - a carta.
Pedaço de papel
Com uma borda
De cola. Dentro - uma palavra
Apenas. Isto é tudo.
Assim não se espera o bem.
Assim se espera - o fim:
Salva de soldados,
No peito - três quartos
De chumbo. Céu vermelho.
E só. Isto é tudo.
Felicidade? E a idade?
A flor - floriu.
Quadrado no pátio:
Bocas de fuzil.
(Quadrado da carta:
Tinta, tanto!)
Para o sono da morte
Viver é bastante.
Quadrado da carta.
Marina Tsvetáieva
1923
Tradução de Augusto de Campos
Marina Tsvietáieva (1892-1941) foi uma das grandes expressões da poesia modernista russa. Mas sua obra tem pouca divulgação no Brasil. Marina, resultado de oito anos de pesquisa e tradução do concretista Décio Pignatari, corrige a injustiça. Ele também assina os três prefácios, que tratam da tradução, da posição de Marina no conturbado ambiente ideológico da Rússia da época e de sua biografia - da juventude agitada ao suicídio. Poemas como Ensaio do Ciúme combinam rigor formal com alta carga emocional: "Como vai indo com a outra?/ Tão fácil, não? - basta um impulso/ no remo - com a orla, a minha/ imagem se borra, se afasta
bjs,soninha
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