Café...tudo de bom!

17.2.11

A Louca Que Vendia Pães...



 A LOUCA QUE VENDIA PÃES


A madrugada envolvera a cidade com gigantescos tentáculos como se desejasse esmagá-la triturando-a em pedacinhos,enquanto furioso temporal lavava os miasmas que impregnavam o ar,rolava pelas ruas desertas,embrenhando-se pela terra parecendo desejar um esconderijo e alí permanecer para sempre.

O lamaçal aumentava a cada pingo de chuva,colocando em risco a vida de quem se atrevesse a sair de casa enquanto o sol não saísse para transformá-lo em grossas e feias crostas.

Somente a louca ignorava todas as intempéries que se derramavam sobre a cidade seguindo o seu curso solitário...

Cantarolando músicas que por certo aprendera na infância,debulhava-se em lágrimas que se misturavam à chuva transformando-se num caldo morno e salgado que ela sorvia com ávido prazer.

Catava as pedras que encontrava pelo caminho guardando-as com cuidado e carinho  embrulhadas num pedaço de pano,à guisa de um alforje,que se tornava cada vez mais pesado fazendo-a andar com passos arrastados e miúdos

Os grilhões da noite afrouxaram-se libertando-a para que ela se recolhesse cedendo o seu lugar ao dia. Respingos de luz invadiam a cidade desolada e triste. Olhos aguçados e curiosos espiavam pelas janelas entreabertas analisando a possibilidade de sairem à rua ou não. Uma ou outra porta se abria para fechar-se imediatamente diante do quadro desolador.

Uma voz cansada e triste rompe o silêncio da manhã,gritando:

- Pão fresquinho! Quem quer pão para comer com o café? Comprem..comprem...

Era a louca que assim procedia.

Curiosos abriam portas e janelas dizendo-lhe impropérios e chistes que pareciam não atingir-lhes pois que ela continuava a sua cantinela interminável com um sorriso enigmático afivelado aos lábios.

Eis que um garoto de uns dez anos de idade foge da vigilância dos pais e se atira atrás da louca gritando:

- Quero um...quero um...Ei moça...quero um pão!

Ela, sorrindo para o menino, pega três pedras encardidas e lhe entrega falando-lhe:

- Tome meu amiguinho; um é seu e os outros dois dos seus pais ou de quem você quiser.

O garoto surpreso com a gentileza da louca lhe diz:

- Mas eu só trouxe dinheiro para um.

- Não tem nada não, de outra vez que eu voltar aqui você me paga os outros,diz ela,piscando um olho para o garoto.

O garoto remexe nos bolsos das suas largas calças que não caíam por conta de um suspensório já bastante puído,retirando dalí duas figurinhas que vieram presas aos sabonetes comprados pelo seu pai.

A louca recebeu as figurinhas das mãos do garoto, cheirou-as,beijou-as e saiu rodopiando e cantando envolta na mais pura aura de alegria,pelos caminhos da vida enquanto monologava:


- Vou comprar uma roupa nova...e um sapatinho...hahaha!!!


O garoto, sorridente, levou as três pedras para a sua casa humilde entregando-as para a sua mãe enquanto lhe perguntava:


- Estas pedras servem pra alguma coisa mãe?!

A mãe sorrindo respondeu-lhe: 

Põe aí no canto filho que vai servir pra escorar a porta pra não ficar batendo quando o vento estiver forte.


O garoto feliz,colocou-as no cantinho junto ao fogão de lenha,chamou o seu amigão,um cão viralata que atendia pelo nome de furacão e correu para o seu quarto a fim de aproveitar o dia nublado e dormir mais um tiquinho...




bjs,soninha
Texto que elaborei para a Blogagem Coletiva 
do Blog:Fábrica de Letras
Tema: Loucura






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bjs,



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