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1.11.12

DESTAQUE: "Waly Salomão"

 WALY SALOMÃO 
* Jequié/BA 03 de setembro de 1043
     + Rio de Janeiro, 05 de maio de 2003
Waly Salomão, nascido Walid, também conhecido como Waly Sailormoon, marinheiro da lua, filho de um árabe com uma baiana, ponte entre as mil e uma noites e o calor de Jequié (interior da Bahia), era nômade por natureza, nunca parou quieto em algum lugar, amante da filosofia pré−socrática, produtor musical, herdeiro do Tropicalismo, poeta marginal (Me segura qu’eu vou dar um troço foi sucesso de público e crítica nos anos 60).

Embora tivesse voz rouca e forte, dessas que ocupam todos os espaços da sala, falava com as mãos, gesticulando palavras e pensamentos, o corpo se movendo como uma avalanche de idéias.
Waly foi um dos convidados do 5° Encontro Catarinense dos Escritores, realizado em novembro de 2000, em Joinville, SC. Esbanjando simpatia e sorrisos, fez pronunciamentos, leu poemas, esculhambou com o que tinha para ser esculhambado e autografou livros. Enfim, comportou−se como um profissional. Desses que fazem jus ao cachê pago pela organização.

No entanto, em determinado momento, um curto−circuito. Em um dos eventos menores da programação estourou uma discussão. Waly estava no recinto, lá nos fundos, em uma daquelas conversas paralelas típicas de eventos literários. Comprovando que tinha bom ouvido, percebeu que alguém estava falando mal de Kostantin Kavafis. Irritado com a ignorância do sujeito e comprovando desconhecer a prudência, interrompeu a briga, solicitou a palavra e encenou espetáculo.
Adjetivou o sujeito em alto e bom som com os mais diversos, divertidos e inumeráveis palavrões. Pudico e envergonhado, a vítima não sabia onde se meter. Sequer conseguiu encontrar alguma desculpa para escapar daquele constrangimento. Não satisfeito com o massacre, Waly, como se fosse um professor que não tem piedade com o aluno incompetente, desconstruiu toda a argumentação que gerou a polêmica. Sem indulgência, fez questão de esclarecer quais são as diferenças que separam o equívoco e a erudição.

O público aplaudiu de pé e se pudesse, teria pedido bis.

Esse engraçadíssimo episódio está registrado no número 3 da revista Babel. 
Como se fosse um reflexo de sua personalidade, a poesia que Waly escreveu era lírica e agressiva, marginal e discursiva, cheia de ritmo e contrabando, fora de moda e dentro do pensamento selvagem, hino em louvor à contradição e ao labor estético. Como mimeses dos sons produzidos por uma orquestra sinfônica, reavivou, reanimou, re−estabeleceu o reinado do barroco, gotas de chuva se somando à tempestade, luzes e algaravias no meio da noite, detalhes sobre detalhes multiplicando o excesso, seguindo a trilha forjada por personagens/profetas/poetas como padre Antonio Vieira e Gregório de Matos.

Editor da revista Navilouca (ao lado de Torquato Neto), Waly nunca recusou o navegar por mares nunca dantes navegados. Nado no grande livro do mundo, afirmou, folheando a enciclopédia do conhecimento. Mergulhou nas águas turbulentas da crítica, flutuou em traduções, foi ator e espectador das próprias performances. Escreveu letras de músicas gravadas por Maria Bethânia, Adriana Calcanhoto, Zeca Baleiro e Jards Macalé. Soldado da cultura.

Waly Salomão, funcionário público (secretário nacional do livro), morreu aos 59 anos, vítima de câncer, em maio de 2003. Ele sabia que toda poesia é detrito da vida.

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