Café...tudo de bom!

5.9.13

Influência do Canibalismo na Tropicália


Há até quem filme o nascimento dos filhos com zoom e parafernália. Eu sou mais de ficar ali do lado, esperando que tudo dê certo.

Digo isso porque, até onde sei, esse é um dos momentos em que a criança pode estar completamente feliz, inteiramente integrada ao universo. Pra que ficar virando a cabecinha dela pra cá e pra lá a fim de que a foto saia perfeita? Este átimo de felicidade corre o risco de levar uma palmada na bunda e começar a chorar.

Médicos já me garantiram que não precisa dar palmada alguma. Não vou exagerar e dizer que, por causa do tapa, o bebezinho pode acabar virando um esquartejador de adolescentes, incendiador de índios ou membro da orquestra J. Dirceu e sus Mensaloneros. Mas uma porrada não me parece o ideal como primeiro contato com o mundo. Lembre-se de que há quem creia, eu inclusive, que todo bebê traz consigo o insenso, que são milhões de anos de memórias que tentamos decifrar em sonhos.

Ou vocês achavam que a coisa era simples assim: todo pai quer ir para a cama com a filha, e vice-versa, e toda mamãe quer fazer sexo com o filho? Freud foi um dos maiores escritores da História e acertou muitas, como a do sexo ser a mola que move a humanidade - mas isso é apenas uma das camadas mais superficiais do cérebro humano.

Outro bicho que deve ter seu momento de total felicidade é o peixinho de aquário. Já nasceu ali com sua família e, portanto, não conhece mais nada e, como eu, nem o Rato Molhado, por exemplo. Além disso, não precisa trabalhar, não precisa andar vestido, tem peixinhos e peixinhas à vontade e, se tiver dúvidas, estas são logo dissipadas pela filosofia.

Por exemplo - disse o peixinho menor ao veterano do aquário:

- Está bem, digamos que não exista Deus. De quem é então aquela mão que joga comida no aquário todos os dias às oito da manhã e às cinco da tarde?

Ah, dúvidas... jamais deslindadas. Será que o político já nasce ladrão e, conseqüentemente, devemos perdoá-lo, pois trata-se de questão genética? Ou ele é ladrão porque é bom observador, vai aprendendo aos poucos e, quando vê, já está dando aulas ao Jader Barbalho, ex-presidente do Senado, cuja cadeira às vezes causa queimaduras de mais de 200 graus à bunda que a embala?

Será que todas as jornalistas têm incontrolável vontade de ter um filho com um político casado ou só algumas brasileiras? Será que é verdade mesmo essa história de que os pais, quando descobrem que o filho é mais chegado a um menino do que a uma menina, insistem em dizer que estão orgulhosos e felizes?

E por que, então, o pai sai batendo a porta sempre que o filho pede o batom emprestado para a mãe? Será que o nosso bom rabino Sobel já vendeu as gravatas Hermès que teria afanado de uma butique em Miami por serem kosher? Ou será que está esperando uma boa proposta da Palestina para trocar as gravatas pela Faixa de Gaza?

Enquanto isso, os jornais do Rio e de São Paulo, mais oIndependent e o NYT , estão aqui à minha frente berrando: "Decifra-nos ou o devoraremos numa bacanal de sangue". Não tenho coragem de abri-los, pois sinto que o 2 de novembro (hoje, enquanto escrevo) é aziago para todos, menos para os religiosos em geral, que estão loucos para ir aos Céus.

Agora é tarde. Abri um pouquinho a primeira página: "Infraero avisa: evite vôo na hora de pico". A Esfinge, que lembra vagamente, e para melhor, o falecido senador ACM, ruge aos meus ouvidos: "Se você não decifrar o que o diretor da Infraero quis dizer com essas palavras cabalísticas, produzidas pelo capitão Joban, eu te comerei de todos os modos que conheço, e são milhares".

E eu que achava que ela viria com uma pergunta fácil, como quem caminha primeiro com quatro pernas, depois com duas e, finalmente, com três? Mas não. A criatura resolveu se atualizar. Respondi: "A Infraero está pedindo para que todos evitem a hora do pico, de modo que nessa hora os aviões estarão vazios e poderão melhor servir às autoridades".

A fera grunhiu e pedi outra chance: "A Infraero está informando que não pagará indenização alguma a parente de vítima alguma, pois todas foram oficialmente avisadas de que não deveriam recorrer à hora do pico e de que se o fizessem podiam ser fritadas." A Esfinge me deu um abraço e fomos tomar um uísque no bar de Congonhas, cuja pia estava entupida. Disse-me ela:

- Parabéns, rapaz, acertaste quase de primeira.

- E se eu tivesse errado?

- Te comeria ali na frente de todo mundo, pois ninguém acredita em Esfinge

Fausto Wolff, JB, 5.11.07

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