No Reino das Penumbras o Rei Miramar vivia uma terrível e dura realidade:não conseguia conter o ímpeto de uma dama cruel que viera passear nos seus domínios e dali não mais se ausentara.
Alta,morena,longa cabeleira escura envolta em negro véu sedutoramente perfumada,olhos que perfuravam a mais densa escuridão como maçaricos em chamas,trejeitos sensuais expondo a sua lascívia dominadora,a Violência atormentava o Reino com internas convulsões de arbritariedades cruéis. Sabendo-se sedutora,insinuava-se nos lares atiçando o ímpeto dos maridos contra as esposas,transformando-os em audazes verdugos cuja chibata cortava o dorso das mulheres que se tornavam rendidas e submissas tendo apenas o medo como consolo,onde se refugiavam.
Enquanto esta dama intinerante vagava pelo Reino espalhando desarmonia,ódio e maus tratos,uma outra,moradora há anos deste Reino,de tez alva e delicada,olhos azuis,penetrantes como nesgas do céu radiante,mãos delicadas que se movimentavam sobre as suas vestes delicadas como se fossem borboletas em hábeis e graciosos voluteios,acompanhava com discrição a conduta da sua antagonista na tentativa de neutralizar as suas forças não permitindo o culto à desarmonia; era a Paz!
Infelzmente,nem sempre ela conseguia o seu intento pois a Violência extremamente ardilosa ,via a cada dia aumentar o seu contigente de adeptos.
Imaginando como enfrentar e resolver o problema com a Violência,o Rei Miramar marcou um encontro entre ela e a Paz a fim de que esta última viesse a aconselhar-lhe e,quem sabe assim, mudar o seu temperamento e a sua conduta.
Na hora maracada,nas dependências do palácio real ambas compareceram cumprindo rigorosamente os critérios estabelecidos pelo rei,quais foram: pontualidade,trajes simples,nenhuma arma e dez testemunhas.
Iniciado o diálogo pelo Rei,este cedeu a palavra à Paz,explicando para a Violência a finalidade a que este se propunha.Ela não reagiu mas franziu o cenho e manifestou leve risada de sarcasmo.
Conduzindo com dignidade e brandura a conversa, a Paz enfatizou a necessidade da harmonia a fim de respeitarmos a Lei Natural do Amor e podermos fazer parte do quadro de co-criadores do processo Universal;dissertou sobre o Amor e as suas conquistas no âmbito moral da humanidade;citou os grandes expoentes que passaram pelo mundo espalhando-o por todos os lugares,estabelecendo os sólidos alicerces para os que lhes sucederam;enalteceu os famosos e inenarráveis "milagres" que nada mais são do que a patente manifestação do Amor de Deus,invadindo a madrugada até altas horas com as suas palavras melodiosas cuja tônica era sempre o Amor.
As palavras,como que por magia,se transformavam em gotículas luminosas que penetravam pelos poros dos presentes,inclusive da Violência,beneficiando-os no seu bem estar físico e espiritual.
A Violência acostumada durante séculos e mais séculos às sensações grosseiras do corpo e da alma,ao receber o influxo destas gotículas iluminadas e benfazejas, revirava-se na sua poltrona,gesticulava como se desejasse um aparte enquanto abria a boca que quedava inerte por não conseguir articular as palavras que rolavam desenfreadas pela sua mente doentia.
Durante vários minutos e horas a Violência travou um embate consigo mesma na tentativa de apartear a fala da Paz e impor os seus argumentos,sem êxito. Quando,cansada de lutar contra a força que a mantinha em estado de exaltação inerte e flácida,percebeu que a sua adversária havia conquistado a todos inclusive as suas testemunhas e fiéis companheiras das lides cruéis,tentou gritar mais uma vez e,a sua voz assemelhando-se a um esgar de dor rasgou a sua garganta projetando-se no ambiente como uma pasta escura e pegajosa grudando no teto durante alguns segundos para espatifar-se em seguida no colo da Paz que a recolheu,mirando-a por longos e silenciosos minutos para dizer em seguida:
- Estou aqui,amiga!
O rei exaltado não conseguindo entender o que se passava perguntou à Paz:
- A quem te diriges?
- À nossa irmã Violência,ó Alteza Real.O senhor não escutou o seu grito de dor clamando por repouso e bem estar?!
- Não,não escutei,respondeu-lhe o rei.
- É verdade! falou a Paz. As suas palavras rugiram tão entrecortadas de dor e lamúria que poucos puderam escutá-las.Erguendo-se da poltrona a Paz levantou,para que todos pudessem ver com nitidez,o lamento que brotou das entranhas da Violência quando não mais suportando a si mesma,naquele dia glorioso, ela clamou pela Paz!
Blogagem Coletiva: Blog Fábrica de Letras
TEMA: Violência
bjs,soninha
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