Café...tudo de bom!

9.6.11

Vivência Surreal




Vivência Surreal

Olho através da vidraça e posso vê-lo aproximando-se da cidade, arrastando sandálias de veludo sobre as folhas amareladas, adormecidas no chão.

Ao meu lado, com a cabeça repousada sobre o meu ombro, o outono se permite deixar que as lágrimas sufocadas, até então, rolem pela sua face indo depositar-se no meu colo onde se transformam em graciosas falenas douradas.

Eis que ele me pergunta:

- Vês quem se aproxima?

- Sim, respondo eu._ É  o Inverno que vem para ocupar o teu lugar a fim de que possas descansar um pouco_

- Mas não estou cansado! _diz-me com altivez e serenidade_

- Sei que não estás, é a força do hábito de querermos a tudo justificar, _respondo cabisbaixa e cismada._

Ele se cala por alguns segundos para, logo em seguida sussurrar baixinho ao meu ouvido: _Vamos passear.. vamos !

Vamos desfrutar dos últimos dias do nosso convívio neste ano, pois longos dias se passarão, depois que eu me for, até que nos possamos ver novamente.

Dito isto, me tomou pela mão arrastando-me para a rua, sem dar-me tempo de pegar um agasalho. 

Vestida com uma leve camisola de algodão, braços desnudos, pés ao sabor do vento, corri para a noite que se encontrava envolta por um negro manto entremeado de esparsas estrelas. 

O vento, num ímpeto frenético abraçou-nos lançando-nos um nos braços do outro.

Éramos três almas solitárias dentro da solidão da noite._ Eu, o outono e o vento!_

No primeiro momento, a sua algidez acariciou o meu corpo despertando-me arrepios enquanto os meus pêlos se eriçavam como se realizassem uma dança semelhante ao trigo ao ser penteado pelos ventos amorosos. Todo o meu ser tremia como se estivesse prestes a entrar num colapso. Minh'alma buscava loucamente levar o equilíbrio à minha razão que julgava-se em delírio. _Em vão !

A diferença entre o fogo no qual ela se consumia e a algidez do vento que nos enlaçava era tamanha, que os seus esforços se esboroavam sobre a sua própria vontade, para logo em seguida se renderem inertes.

Enlaçados como se buscássemos nos aquecer mutuamente, deslizamos por ruas e vielas, praças e cais até cairmos exaustos nas areias da praia que veio se juntar a nós na intensa busca de aconchego.

Foi assim que a manhã  nos surpreendeu...

O dia espiou pela janela da vida que estava envolta numa névoa úmida e esgarçada enquanto a noite fugia mansamente pelos corredores gelados por onde o visitante que nos espionava havia desfilado. As pessoas despertaram para a lida diária e, assim como nós, ao sairem de suas casas, foram recepcionadas pelo vento que lhes despertava arrepios por todo o corpo fazendo-os erguerem o cachecol até a altura do nariz e esconderem as mãos enluvadas nos bolsos dos seus pesados casacos.

Quando um tênue raio de sol, tímido e pálido, nos tocou, foi como se uma varinha mágica o tivesse feito.

Retornamos do nosso êxtase a tempo de vislumbrarmos nosso visitante nos acenando com um breve gesto de quem prometia logo voltar....

Ele já está a caminho....
bjs,soninha
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