Café...tudo de bom!

28.5.13

Laurindo Rabelo


Laurindo Rabelo pranteou a morte de sua irmã, inteligente poetisa, que enlouquecera e morrera de amor.

A história desta desgraçada moça é conhecida; morreu-lhe inesperadamente o noivo, e ela, perdida a razão, acompanhou-o ao túmulo. Laurindo estava na Bahia, fazendo o curso de Medicina, e, ao chegar-lhe a notícia do falecimento da irmã, escreveu estes versos:
"Que tens, mimosa saudade? 
Assim branca quem te fez?
Quem tão pos tão desmaiada, 
Minha flor? Que palidez!

Quem sabe… (Oh! meu Deus, não seja,
Não seja esta idéia vã!)
Se em ti não foi transformada
A alma de minha irmã?!

‘Minh’alma é toda saudades;
De saudades morrerei…’ 
Disse-me, quando a minh’alma
Em saudades lhe deixei:

E agora esta saudade 
Tão triste e pálida… assim
Como a saudade que geme
Por ela dentro de mim!…

A namorar-me os sentidos! 
A fascinar-me a razão!…
Julgo que sinto a voz dela 
Falar-me no coração!

Exulta, minh’alma, exulta!… 
Aos meus lábios, flor louçã! 
No meu peito… Toma um beijo…
Outro beijo, minha irmã!…

Outro beijo, que estes beijos
Não tos proíbe o pudor; 
Sou teu irmão, não te mancham 
Os beijos do meu amor.

Fala um pouco. 
Se almas podem 
Em flores se transformar, 
Sendo almas encantadas, 
As flores podem falar!

E não falas?… não respondes?… 
Oh! cruéis enganos meus! 
Saudade, por que me iludes? 
Minha irmã! Meu Deus! meu Deus!

Minha irmã! minha ventura, 
Esperança, encanto meu!
É teu irmão quem te chama!… 
Responde!… Fala!… Sou eu!…"
É este o trecho; de toda a poesia escolhi estas dez quadrinhas delicadíssimas; as que precedem e as que seguem podem bem ser excluídas; não são tão valentes. Nas transcritas estão bem retratados o talento e o pesar do poeta proletário e sofredor, que viu seu irmão assassinado, sua irmã louca e morta. Aí está o homem ainda crente e meio fantástico; aí está o delírio do romantismo; mas o delírio sincero ; crenças e dúvidas travam-se n’alma do poeta.

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